A surdez sempre foi tratada clinicamente como uma doença. Prova disso é que existe um CID – Código Internacional de Doenças em que os médicos enquadram esses “pacientes”. Aqui, o objetivo é ir desmistificando a surdez e seus estereótipos.
Talvez isso seja necessário e tenha a sua função, sua aplicabilidade para a medicina e para a sociedade. Não desejamos entrar nesse mérito. Mas queremos desafiar o leitor a pensar na surdez como uma condição humana. Por que sugerimos esse deslocamento de conceito?
No conceito de doença estão implícitos os termos tratamento e cura. Daí perguntamos: é possível medicalizar a surdez? A cura pode ser buscada pelo uso de aparelhos auditivos simples ou pelas cirurgias de implantes cocleares? Ao desligar ou retirar o aparelho, a surdez não estará ali? São questões para refletir. de qualquer forma a família ou o próprio surdo, dependendo da idade, tem total liberdade de decidir. Ninguém tem o direito de julgar ou condenar tais decisões.
É preciso apenas que se entenda que a surdez não terá sido contida. Privado dessas tecnologias, seja por um defeito, uma pane, seja por falta de baterias ou simplesmente por estar desligado… O sujeito estará na sua condição de surdo e retornará ao mundo do silêncio. Ir desmistificando a surdez é um processo lento, passo-a-passo, mas é nosso dever. Muitas vezes a “cura” é buscada pela correção dos defeitos da fala, por exaustivos treinamentos das habilidades da oralização e da leitura labial, mas isso também é uma decisão particular.
Cremos que faz sentido, dependendo do momento em que a surdez ocorreu. Ou seja, se o sujeito já era oralizado antes de ficar surdo e até mesmo se essa é uma decisão da família. Novamente, não nos cabe julgar ou condenar. Apenas lembramos que existem outras possibilidades.
Surdos oralizados também enfrentam dificuldades no mundo dos ouvintes. Além de ser cansativo estar atento o tempo todo aos lábios de quem fala, basta que o interlocutor se vire ou que use bigodes, ou que não articule bem as palavras, para dificultar o entendimento.
Desmistificando a surdez
Além disso, a comunicação em grupo, com muitos falando ao mesmo tempo, também é um grande dificultador. Porém, não se pode negar os ganhos para as relações interpessoais, se o surdo for oralizado. Mas, para a criança pequena, isso pode representar um grande investimento de tempo fazendo muitas repetições de fonemas, nos quais ela não vê muito sentido. Esse tempo poderia ser investido na interiorização de conceitos essenciais para a integral formação do sujeito surdo.
“O tempo não para”. Não há segunda chance para esses meninos que seguem na vida perdendo extensos conteúdos programáticos, que lhes são de difícil acesso. A vida poderia ser mais leve, mais natural para o surdo, se todos também fossem desmistificando a surdez. E entendessem que o surdo é inteligente, capaz de entender o mundo e de se comunicar com naturalidade, numa língua que é viso-espacial como a Libras – Língua Brasileira de Sinais, por exemplo.
Se for a opção do surdo e/ou da sua família, igualmente merece respeito. Por que não? O objetivo da SignumWeb é provocar essa reflexão!
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