Para comemorar o Dia dos surdos, que esse ano cai no domingo dia 26 de setembro, a SignumWeb elegeu um personagem importante dentro da cultura surda brasileira. Ele é o homenageado. Mas na verdade está representando todos os surdos. Os surdos são cidadãos que estão conquistando cada vez mais espaço na nossa sociedade. Portanto a homenagem é para todos eles. Parabéns!
Conversei com o Lucas Ramon, parceiro da signumWeb, amigo do nosso CEO Felipe Barros.
Mais conhecido como Tikinho, o Lucas é um surdo com uma história muito parecida como a de vários outros surdos brasileiros. Afinal, como o Lucas, todos eles precisam se esforçar muito e ser bastante persistentes. Em suma, é preciso coragem para superar o preconceito, para vencer a barreira gerada pela falta de acessibilidade. Enfim, para conquistarem o seu lugar ao sol.
Vamos conhecer um pouco da história do Lucas Ramon, o Tikinho?
Olá, Tikinho. No dia dos surdos, gostaria que falasse um pouco da sua história.
Olá! Obrigada pela oportunidade. Eu tenho 34 anos, e sou um cartunista surdo. Apresentei meus desenhos pela primeira vez no FIQ 2015 com o nome “Três Patetas Surdos” e depois comecei a ser chamado para fazer muitas palestras em vários estados no Brasil.
Mas minha história começa na cidade de Florestal, interior de Minas Gerais. Eu sou o filho do meio, entre 03 irmãos e sou o único surdo. Meu pai me abandonou muito cedo. Acho que foi por preconceito. Ele não conseguiu lidar com a ideia de ter um filho com deficiência.
Minha grande incentivadora era minha vó. Era ela quem percebia o meu potencial e falava que eu tinha talento para desenhar. Vendo meu interesse por desenho animado e por dinossauros, ela comprava muitos lápis de cor e papel para eu rabiscar. Eu amava. Queria muito desenhar. Saia uns desenhos tortos, malfeitos, mas ela achava lindo.
Infelizmente a minha vó faleceu muito cedo e eu fiquei muito triste mesmo. Queria morrer também. Coube a minha tia me criar. Eu a considero igual a uma mãe.
Como foi que estudou e se profissionalizou?
Tudo começou com essa história dos dinossauros. Eu amo tanto que tatuei dinossauros no meu braço. Então resolvi procurar um curso na internet. Só que não havia cursos que ofereciam acessibilidade. Como eu ia me comunicar com o professor ouvinte? Só tinha eu de surdo. Entretanto eu insisti. Eu queria muito aprender a desenhar.
Sou grato a um amigo, nome Gilson, que quis fazer o curso também e aprendeu Libras comigo. Eu ensinava Libras para ele e ele me ajudava a entender as aulas na escola de quadrinhos aqui em Belo Horizonte. Somente assim eu conseguia um pouco de comunicação.
Depois eu fiz faculdade. Com muito esforço me formei no ano 2016 na Faculdade UNA em Belo Horizonte. Fiz o curso de Designer gráfico.
Como se tornou conhecido?
Eu tive que aprender muita coisa sozinho. Aprendi a me virar nas redes sociais e postar meus desenhos no facebook e no Instagram. A tecnologia ajudou muito.
Depois foram surgindo muitos convites. Lancei meus livros “Três Patetas Surdos ” e “Surdo em Vitória” no Bienal Minas Gerais. Fiz exposição dos meus desenhos na Gibiteca de Curitiba. Fui entrevistado pela bienal dos quadrinhos em Curitiba em 2016. Também fui convidado para participar do dia dos quadrinhos em Belo Horizonte/MG. Enfim, até hoje sou convidado para palestras e entrevistas. Porém eu sou uma pessoa simples. Acho a humildade uma coisa muito importante.
Recentemente ganhei um prêmio importante. Venci um campeonato para criar o mascote da surdolimpíadas que acontecerá em dezembro em São José dos Campos, em São Paulo. Desenhei o Lobo Guará usando as cores da bandeira brasileira. Eles ligaram para minha mãe e comunicaram que o meu desenho foi selecionado. Eu fiquei muito feliz.
Tenho outros projetos, especialmente de animação. E estou procurando falar de diversidade e inclusão nos meus desenhos. Assim tenho livros que estão sendo produzidos que fala das lutas raciais, de valorização dos negros e de outras deficiências, como a surdocegueira.
Como é ser um cartunista surdo, no Brasil?
Eu tenho orgulho de ser surdo. Isso não é um problema para mim. O problema é a nossa sociedade que ainda precisa aprender a respeitar e valorizar. Eu sofri muito bullying na escola e na vida. Não tive intérpretes, não tive inclusão na minha infância e ainda sinto muita falta disso.
Hoje trabalho como educador no museu MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal em Belo horizonte. Sinto-me capaz de contribuir com a sociedade. Quero muito mais. Quero trabalhar com animação. Já investi um pouco em equipamentos, mas preciso de incentivo e apoio. Estou batalhando para conseguir apoio de produtoras, mas não está sendo fácil.
Que mensagem você deixa para as pessoas surdas, nesse Dia dos surdos?
Meu conselho é que tenham um objetivo na vida e sejam persistentes. Nunca desistam dos seus sonhos.
São vários surdos no Brasil, que estão provando que o surdo é capaz. Então quero parabenizar a todos os surdos!