Entrevista: XANDÓ - técnico da Seleção Brasileira de Voleibol de Surdos Entrevista: XANDÓ - técnico da Seleção Brasileira de Voleibol de Surdos

Inclusão através do esporte: Entrevista com XANDÓ – técnico da Seleção Brasileira de Voleibol de Surdos:

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Mario Xandó de Oliveira, o ex-atacante Xandó de tantos títulos pela Seleção Brasileira de Vôlei Masculino, vem levantando a bandeira da inclusão através dos esportes. Seguiu carreira como técnico – após abandonar a de atleta. Natural de Poços de Caldas – MG, atualmente mora em Santos – SP, dedicando-se ao marketing esportivo e ao comando técnico da Seleção Brasileira de Voleibol de Surdos. Xandó também está se candidatando a Deputado Federal pelo Estado de São Paulo. Ele tem como objetivo defender a mudança dos critérios de alguns ministérios referentes aos surdos no Brasil. Conversamos com o técnico e trazemos a entrevista na íntegra. Confira!

Entrevista: XANDÓ - técnico da Seleção Brasileira de Voleibol de Surdos
Imagem: Divulgação/FSG

1- Você foi medalhista olímpico. Conte um pouco sobre sua trajetória de vida.

Comecei a praticar esportes com 8 anos de idade. Joguei futebol, futsal, basquete, atletismo e voleibol. Iniciei minha trajetória no vôlei aos 12 anos na Caldense. Com 14 anos, fui convocado para a Seleção Brasileira Infanto Juvenil para disputar o Sulamericano em Buenos Aires. Participei pela Seleção Brasileira dos Panamericanos de Porto Rico em 1979 (medalha de prata), Venezuela em 1983 (medalha de ouro) e dos Estados Unidos em 1987 (medalha de bronze) – Olimpíadas de Moscou 1980 (5º lugar) e Olimpíadas de Los Angeles 1984 (medalha de prata). Conquistei 5 Campeonatos Brasileiros e 5 Campeonatos Sulamericanos. Após o termino de minha carreira de esportista, assumi como coordenador de alguns projetos esportivos do Governo do Estado de São Paulo e Prefeitura de São Paulo. Fui Diretor de Esportes na Prefeitura de Cubatão e Diretor de Marketing Esportivo na Fundação Pró Esporte de Santos. Tenho me preocupado com essa questão de inclusão através dos esportes.

2- Por que se interessou por trabalhar com inclusão de pessoas surdas?

Fui convidado por um amigo surdo a visitar a Reatech, em São Paulo. Lá conheci algumas pessoas surdas que me apresentaram o Sr. Gustavo Perazzolo – presidente da Confederação Brasileira de Desportes de Surdos. Gustavo me fez um convite para conhecer os esportes de surdos em Goiânia em um Campeonato Brasileiro de Esportes Coletivos, em 2011. Em Goiânia, fizemos um treino de voleibol com os atletas surdos. Gostei muito e começamos a conversar sobre a possibilidade de se fazer um Panamericano no Brasil e um projeto mais profissional de vôlei. Graças a Deus deu tudo certo! Fizemos o Panamericano em 2012 em Praia Grande e iniciamos em 2013/14 0 projeto de voleibol.

3- Como é a comunicação com eles? Você usa a Língua Brasileira de Sinais – Libras?

Vou ser bem sincero. Tento, mas não consigo aprender LIBRAS. Nos projetos, estamos sempre acompanhados por intérpretes.

4- Como é seu relacionamento com os atletas surdos? É diferente de treinar ouvintes?

Meu relacionamento com os surdos é afetivo e muito tranquilo, somos amigos. Para mim não tem diferença entre surdos e ouvintes. O esporte é bom por isso!

5- Conte um pouco mais sobre seu trabalho com os surdos. Há reconhecimento desses atletas? Eles recebem algum auxílio, como o bolsa atleta, por exemplo?

Depois que assumimos o trabalho com o voleibol, tivemos boas mudanças na questão de reconhecimento. Ainda está longe de ser reconhecido no Brasil, não depende só de nós… Depende do reconhecimento internacional para que seja verticalizado em todos os países. A partir do momento em que os surdos acertarem com o Comitê Olímpico Internacional, automaticamente todos os países no mundo criarão programas para o reconhecimento e crescimento do esporte para eles. O critério da Bolsa Atleta Federal é bem complicado para os surdos devido à falta de eventos de grande porte com a participação de vários países. Por exemplo, no vôlei: somos campeões do Panamericano, porém, participaram apenas 4 países no evento. Teoricamente, mereceríamos a bolsa atleta por sermos campeões, mas o critério da Bolsa Atleta Federal só reconhece eventos com participação de no mínimo 5 países. Algumas modalidades com números maiores de países competindo recebem a bolsa atleta.

6- Como foram as Surdolimpíadas da Turquia no ano passado?

Não estive nas Surdolimpíadas da Turquia por questões profissionais, mas o saldo foi positivo… Apesar de não ter tido tempo e recursos financeiros para uma boa preparação.

7- Os surdos participam à parte? Por que? O que são as Surdolimpíadas?

Essa questão de não participar das Paralimpíadas e Olimpíadas já vem de muitos anos. Como disse, é um problema internacional que está perto de ser reparado.

8- Quais são seus projetos para o futuro, envolvendo inclusão através dos esportes para os surdos?

Temos muitos projetos, mas o calendário internacional é confuso devido a falta de recursos financeiros. Estamos sempre aguardando esse calendário para fazer nossos planejamentos de trabalho.

9- Como você percebe a inclusão através do esportes para os surdos em nosso Brasil?

O Brasil é um país atrasado e preconceituoso. Melhorou um pouco, graças às redes sociais e internet.

10- A SignumWeb é uma plataforma de videoconferência desenvolvida por um surdo. O que você achou dessa ferramenta de acessibilidade?

Espetacular! Temos que criar um canal de esportes para fortalecer os eventos de esportes para surdos no Brasil. Estamos trabalhando nisso.

11- Qual mensagem você gostaria de deixar para os surdos brasileiros?

Que estamos trabalhando para o reconhecimento dos surdos em todas as áreas. Não desistam, estamos juntos nessa luta. E pratiquem esportes, a inclusão através dos esportes!

Entrevista: XANDÓ - técnico da Seleção Brasileira de Voleibol de Surdos
Imagem: Reprodução/UOL
Imagem: Divulgação

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