Sou Felipe Barros, surdo empreendedor, idealizador da SignumWeb. Somos uma plataforma de videoconferência em Libras – Língua Brasileira de Sinais, em tempo real, para acessibilidade comunicativa entre surdos e ouvintes. Tenho 33 anos, nasci ouvinte no interior da Bahia e fiquei surdo por volta dos dois anos de idade… Vítima de uma meningite pneumocócica que se espalhou por todo o país, em uma epidemia nacional.
Aos cinco anos de idade, migramos para Belo Horizonte – Minas Gerais, minha família e eu, em busca de atendimento e de escolas especializadas. Já que, na Bahia daquela época, não podíamos contar com médicos, fonoaudiólogos ou outros terapeutas que nos apoiassem. Naquele tempo, não sabíamos como lidar com a surdez. Depois descobrimos que no Brasil há surdos oralizados e surdos usuários de Libras. Eu estou entre esses últimos. Aprendi Libras aos 12 anos de idade, no convívio com um colega surdo e sua família, já que a minha família é de ouvintes.
Minha família tentou a oralização por meio de profissionais que treinavam exaustivamente a fala, mas não conseguiram me oralizar. Não conseguia ficar quieto e me concentrar nos lábios da fonoaudióloga. Minha jornada não foi fácil, pois desde sempre tive que enfrentar as barreiras. As dificuldades para lidar com uma língua que me escapava, já que é produzida oralmente. Tentava entender o mundo através dos meus olhos.
Enfrentei e superei, com muita disposição, as barreiras da comunicação impostas durante toda a minha vida. Seja na escola, no mercado de trabalho ou no mercado de consumo. Por ser um brasileiro que não fala bem o português, algumas vezes enfrentei preconceito. Sempre que ia sozinho a qualquer lugar onde precisava conversar com algum ouvinte, as pessoas pediam para eu escrever, já que não me entendiam.
Mas escrever português, para o surdo, pode equivaler a um estrangeiro tentando escrever essa nossa língua. Que considero mais difícil que o inglês. Ainda hoje e até mesmo para produzir este texto que vocês estão lendo, preciso pedir para alguém revisar e colocar na estrutura do português. O surdo costuma levar para a sua produção escrita a lógica de Libras. Por isso, nosso texto sempre parecerá sem lógica para quem o ler.
A opção era levar um acompanhante comigo. E as pessoas me ignoravam, dirigindo a eles a pergunta que queriam fazer para mim. Isso me entristecia. Além disso, ainda tinha o fato de que eu estava sempre perdendo a minha privacidade. Como tratar de questões particulares, na presença de terceiro, ainda que fosse minha mãe ou um amigo ouvinte? Eu poderia me acomodar com essa situação, entender que o mundo funciona assim para os surdos e desistir de batalhar.
Mas desistir nunca foi uma opção para mim! Pensava sempre em como solucionar essa barreira, como por exemplo, idealizando um dicionário Português/Libras, projeto que ainda estou desenvolvendo nos laboratórios da minha faculdade. Sempre me esforcei muito na escola. Muitas vezes, não tive intérpretes na sala de aula. Ainda assim, não faltava às aulas. Mesmo voltando frustrado por não ter entendido as explicações do professor, no outro dia estava lá.
Para fazer o pré-vestibular, precisamos entrar na justiça contra uma empresa que alegou não ter como receber um aluno surdo. Ganhamos, pois naquela época a lei de acessibilidade para surdos já estava em vigor e obrigou a contratação desse profissional. Depois disso, passei em duas faculdades. Contrariando as expectativas e estatísticas em relação à formação acadêmica dos alunos surdos, estou no 7º período do curso de Tecnologia da Informação pela PUC Minas.
Incentivado por professores, fiz a inscrição da minha solução de acessibilidade a surdos numa pré-aceleradora de startups. No final do processo, fui premiado como melhor empreendedor. Também recentemente, em junho de 2018, fiquei em primeiro lugar no Prêmio Empresa Inclusiva do Governo do Estado de Minas Gerais, categoria “microempreendedor individual”.
Minha missão é oferecer acessibilidade 24h pela SignumWeb, minha plataforma – e mostrar para a sociedade que o surdo não é um deficiente, um incapaz… Mas um cidadão que paga seus impostos, produz e consome como qualquer outro.
Eu me considero um vencedor, mas sei que ainda há muito o que conquistar. Estou só começando minha jornada no mundo do empreendedorismo!
Fui colega de classe seu quando fazia CC no Coreu… fiquei me perguntando o que havia acontecido quando percebi que você tinha ‘sumido’, então fico feliz que esteja fazendo progressos e já quase formando em TI, meus parabéns, =).