Existem, em todo o mundo, alguns movimentos sociais pela valorização da surdez… Agora entendida como diferença e não somente uma deficiência, uma condição patológica, um déficit sensorial, uma falta, uma incompletude. O objetivo desses movimentos é promover a libertação do ouvintismo, que tenta “normalizar” o sujeito surdo pela imposição da fala, mas nas entrelinhas é possível identificar um certo preconceito contra o surdo. Isso precisa parar, porque cada um tem de ter o direito de escolher como prefere se comunicar.
Para começar, pretende-se que seja dado à Libras o estatuto de língua natural. E que deixe de ser percebida como simples gestos ou como um conjunto de mímicas. Pesquisas linguísticas já atestaram a complexidade e a riqueza da Língua Brasileira de Sinais em sua morfologia, sintaxe e pragmática.
Para entender isso é preciso fazer distinção entre língua e fala. A existência de uma língua, seja na modalidade oral-auditiva ou na modalidade viso-espacial, garante ao sujeito o acesso ao pensamento lógico, aos esquemas superiores e aos aspectos cognitivos que nos tornam humanos.
A língua é realmente o grande elemento em destaque na história da surdez! Reconhecida a língua, segue-se o reconhecimento da cultura surda, já que uma língua determina uma cultura. No Brasil, a surdez conseguiu sair da clandestinidade e ocupar um lugar na agenda política.
“A lei nº 10.436/2002, ratificada pelo decreto nº 5.626/05, oficializou a Libras – Língua Brasileira de Sinais, como meio legal de comunicação e expressão oriunda das comunidades de pessoas surdas do país, regulamentando o direito de uso e sua inclusão em instituições públicas e concessionárias de serviços públicos no Brasil”.
Agora faz-se obrigatória a presença de intérpretes de línguas de sinais em repartições públicas, nas produções culturais, nos espaços de formação e ensino, etc. Em vários outros países, porém, a luta pelo reconhecimento e oficialização das línguas de sinais ainda persistem… Como também a tentativa de cura e de “normalização” – o ouvintismo.
Nesses países (e muito ainda aqui no Brasil), persiste a tentativa ouvintista de trazer o surdo para o mundo dos sons, através de práticas de exaustivos treinamentos auditivos. De escolas e clínicas centradas na oralização. Nas terapias de reabilitação. Nos processos cirúrgicos de implantação de próteses que propõem a “cura” da surdez.
É preciso conhecer e acolher o desejo do surdo, seja ele qual for, pela oralização ou sinalização. Muitos deles têm sinalizado que querem continuar lutando pelo reconhecimento e valorização da sua cultura e pelo direito de partilharem espaços de convívio. E com a devida acessibilidade comunicativa, seja na educação, no mercado de trabalho ou em qualquer outro lugar.
Exceto por não ouvir, o surdo pode fazer absolutamente tudo!
Acessibilidade comunicativa
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Gostaria muito de saber alguns exemplos de ouvintismo
Olá Adriana. Que bom receber seu comentário.
Um exemplo é o que o Felipe, criador da SignumWeb, viveu na infância. Nenhum profissional que trabalhava com ele (fono, pedagogo, otorrino e a própria escola que frequentava) admitia a possibilidade de usar Libras. A alegação era que precisava ouvir com aparelhos amplificadores, fazer leitura labial e oralizar. Tudo isso é interessante, uma opção bacana. Mas não estavam respeitando a opção por Libras. E o pior era o argumento que se usasse Libras não aprenderia a se comunicar de forma “adequada”.
Um outro exemplo é que, quando concorre a uma vaga de emprego perguntam: “Ouve pelo menos um pouco?” “Consegue ler lábios e oralizar?”
Isso tudo ainda acontece e revela preconceito. O que desejamos é que cada um tenha o direito de escolher como prefere se comunicar.