Estamos no mês de agosto. E setembro está chegando! É um mês lindo, quando comemoramos a primavera e o Setembro Azul… Época em que são lembradas as lutas e vitórias dos surdos pelo reconhecimento da sua língua e da sua cultura. Você conhece o lema “Nada sobre nós sem nós”?
O lema “Nada sobre nós sem nós”, adotado pelas pessoas com deficiência, demonstra essa determinação pela busca da plena participação e inclusão. As pessoas com deficiência se sentem protagonistas da própria história. Elas querem levantar as bandeiras de suas reivindicações, lutar por seus direitos e contra o preconceito, evitando interesses alheios à sua causa.
Isso continua sendo um grande desafio e os surdos seguem lutando, sem abrir mão do apoio de simpatizantes da sua causa. Mas a ultima palavra tem que ser do surdo! É ele quem sabe de si, das suas possibilidades e das suas limitações. É o surdo que sabe dizer qual é a melhor forma de superar as barreiras que dificultam sua efetiva participação na sociedade.
Um tema importante a ser discutido neste momento é a tendência do mercado de tentar usar a inteligência artificial para substituir o intérprete humano. Os ouvintes amam os avatares, aqueles robôs bonitinhos que surgiram com a proposta de interpretar Libras – Língua Brasileira de Sinais. Mas alguém pediu a opinião dos surdos?
Nada sobre nós sem nós: a Libras
Muitos surdos têm informado que não gostam e não usam os robôs, porque eles desconhecem a complexidade da língua de sinais e suas especificidades. Fazem o que eles chamam de português sinalizado. Não dão conta de uma comunicação fluente, em tempo real. Como eles mesmos dizem… “Nada sobre nós sem nós!”.
Interpretar para Libras envolve adaptação de conteúdo para que o texto original faça sentido. Envolve preservação da intenção comunicativa, da contextualidade. Envolve toda uma expressividade que é trazida ao diálogo através do corpo, de um movimento de ombro, de um levantar das sobrancelhas… De um olhar furtivo. Não são só as mãos que falam! Existe toda uma expressão corporal e facial.
Além disso, a legislação brasileira fala que a interpretação precisa ser feita por profissionais de Libras. Mas, infelizmente, não existe a fiscalização necessária e consequente punição pela falta de implementação das leis de acessibilidade comunicativa aos surdos. Temos a Lei 10.098 de 2000 e as demais que vieram depois, regulamentando o uso e difusão de Libras. Mas que ainda é pouco divulgada. E o poder público insiste em se omitir na fiscalização sendo os primeiros a descumpri-la. Como mudar essa realidade?
Nada sobre nós sem nós: o surdo
Precisamos de uma mudança cultural. A sociedade se acostumou a ver a surdez como um problema do surdo. Mas, na verdade, a questão é mais ampla. O surdo é um cidadão, um brasileiro com direitos e obrigações, que paga seus impostos e contribui com sua força de trabalho. Que circula livremente, mas que não tem livre acesso às informações. O surdo é privado da audição. Apenas isso!
Não consegue ouvir, mas em alguns momentos isso pode ser até mesmo uma vantagem competitiva. Já que ele executa algumas atividades em condições de igualdade e até superior a alguns ouvintes. Ele não dispersa facilmente do foco em função dos ruídos, concentrando melhor. Os surdos têm se mostrado capazes de exercer muitas das atividades antes impostas como vetadas a eles pela sociedade.
SignumWeb: idealizada por um surdo
Deem a acessibilidade comunicativa completa e verdadeira, como os surdos desejam, e verão de que são capazes! A SignumWeb abraça essa causa. Seu idealizador é um surdo profundo. Usuário de Libras, que sempre teve que lutar para eliminar barreiras de comunicação. E para garantir a sua plena participação em todos os aspectos da vida social.
A inclusão deve ser ampla. E isso só acontecerá se cada surdo e simpatizante se levantar e se posicionar ativamente. Vamos juntos?
Gostaria de pontuar dois momentos do texto: o primeiro sobre setembro “também” ser azul e dizer que antes disso o setembro é verde porque o 21 de setembro é o dia de luta de todas as PCDs sobre a importância de termos nossas “vozes” respeitadas, é o “nada sobre nós sem nós”. E segundo que esse lema não foi apenas “adotado” pelas pessoas com deficiência e sim criado por ativistas sociais negros com deficiência e em pleno apartheid na África do Sul. É muito importante procurar suas origens no black is beautiful e no movimento de consciência negra porque assim como ser negro nossos corpos com deficiência não têm nada de errado e não precisamos superar as deficiências e sim as barreiras que nos impedem de vivermos nossa humanidade plenamente. Se tem essa ou aquela acessibilidade o importante é que cada um possa escolher o que quer utilizar e que possamos ser respeitados enquanto pessoas. Nada sobre nós sem nós.
Olá Patrícia. Muito obrigada pela sua valiosa e pertinente contribuição. Seguimos aprendendo!