Pensando na experiência dos surdos nos aeroportos brasileiros, iniciarei minha história contando que 6 anos atrás, num voo de Belo Horizonte para Porto Alegre o avião despressurizou e caíram as máscaras para que respirássemos por elas.
Todos ficamos apreensivos, óbvio. Mas o meu filho surdo ficou totalmente transtornado pelo pânico, já que não teve acesso à informação de que bastava colocar a máscara e respirar normalmente.
A vida de um surdo no Brasil não é fácil.
Creio que qualquer um de nós consegue entender isso, mas dimensionar o quanto um atendimento sem acessibilidade comunicativa impacta negativamente a vida dessas pessoas, é algo complexo demais.
Apesar de serem clientes que merecem o mesmo respeito, a mesma atenção que qualquer um outro, apesar de existir uma legislação que determina que as empresas sejam acessíveis às pessoas com deficiência, não é assim que esses consumidores são tratados.
Para confirmar o que estou afirmando convido você a acompanhar a jornada do meu filho e sua esposa, ambos surdos, num percurso que fizemos juntos entre os aeroportos de Confins em Belo Horizonte e de Brasília, capital do nosso país.
O que busco, confesso, é a sua empatia.
Foram duas companhias aéreas diferentes na ida e na volta, mas omitirei os nomes, já que provavelmente o caso se repetiria em qualquer outra delas.
Vamos aos fatos sobre os surdos nos aeroportos brasileiros.
Chegamos em Confins e no balcão central de informações do aeroporto, nada de acessibilidade. O atendente explicou que sabe um pouco de Libras, pois fez um curso, mas não estava conseguindo entender e ofereceu papel e caneta para que explicassem o que desejavam. Com um sinal, apontou para que lado era o check-in.
Optamos por fazer o check-in e despachar as malas no balcão da companhia aérea. O objetivo era que eles se virassem sozinhos. A maioria dos usuários de Libras – a Língua Brasileira de Sinais, tem dificuldades nessas situações e o que pretendíamos era o aprendizado.
A moça se mostrou desconfortável e novamente foi utilizado papel e caneta. Como sabemos o surdo lida de forma limitada com o português escrito, mesmo assim conseguiram a emissão do cartão do embarque.
Na aeronave percebemos que já havia passageiros sentados nas poltronas reservadas para nós. Era um casal de americanos.
Sugeriram que viajássemos em poltronas separadas e eu argumentei que os americanos receberiam as informações de bordo em inglês e que os surdos necessitariam do meu apoio em Libras, já que a companhia aérea não disponha de acessibilidade comunicativa nessa língua.
Depois de muita espera resolveram realocar os americanos e permitir que viajássemos juntos.
Enfim chegamos ao destino, mas descobri que a esteira para retirar a bagagem havia sido mudada. Os surdos não tiveram acesso a essa informação…
No retorno os problemas continuaram.
No retorno o voo atrasou e o balcão de embarque mudou nada menos que três vezes.
O aviso é sonoro. O painel que apresenta as alterações poderia facilmente ser usado para informar também em Libras, mas isso não acontece.
Chegando no aeroporto de Belo horizonte o surdo percebeu que havia perdido o cartão de embarque. Acontece que a viagem foi para que um deles participasse de um evento promovido pelo governo federal e precisava apresentar o tíquete para prestar contas.
Fomos à loja da primeira companhia aérea e novamente recorreram ao português escrito para informar que só conseguiríamos pelo site. Insistimos porque eu já tinha ligado no contato ao cliente e fui informada que eles poderiam fornecer na hora a segunda via do cartão. Depois de consultar vários colegas, o atendente finalmente forneceu o documento.
Na segunda companhia, como estávamos sinalizando, a atendente entendeu que o grupo todo era surdo. Ofereceu um papel e caneta que recusamos. Então, pensando que eu não escutava, ela comentou com a colega ao lado que não tinha paciência com surdos. Que deveriam fazer leitura labial ou escrever, já que não falavam.
Resolvi escrever que precisava da segunda via do cartão de embarque e foi entregue um comprovante de compra que apresentamos posteriormente na prestação de contas mas não serviu para o objetivo pretendido, que era comprovar o embarque.
Já em casa liguei para o atendimento ao cliente, porque obviamente é impossível que o próprio surdo consiga se comunicar pelo telefone tradicional. Foi aberto um protocolo e ainda estamos esperando a resposta.
Acessibilidade comunicativa para os surdos nos aeroportos brasileiros… Seria pedir demais?
Oi família surdo
Olá Murilo, seja bem vindo a SignumWeb.